Coluna dica de leitura: “Millor Definitivo - A Bíblia do Caos”Por Fernando Chagas da Costa (*)
O genial Milton Viola Fernandes era carioca e nos deixou em março do
ano passado, aos 88 anos de idade. Com esse nome, pouca gente sabe de quem eu
estou falando, porém, se tivesse escrito Millor Fernandes, aí certamente muitos
lembrariam de imediato.
Millor foi desenhista, humorista, dramaturgo, escritor, tradutor e
jornalista. Em suma, tinha uma diversidade incrível de talentos e muitos deles
foram usados com maestria.
Há uma vasta opção de leitura disponível do autor, a exemplo de
“Fábulas Fabulosas”, Devora-me ou te decifro”, “Millor no Pasquim”, “Reflexões
sem dor”, “Que país é este?”, “Todo homem é uma caça”, “Eros uma vez” e tantos
outros. Todos escritos com brilhante inteligência, como assim pautou toda sua
existência.
Como sugestão de leitura de hoje, vou deixar uma obra publicada em
1994, com o título “Millor definitivo – A bíblia do caos”. O livro tem, como
citado em sua capa, nada menos que, 5142 pensamentos, preceitos, máximas,
raciocínios, considerações, ponderações, devaneios, elucubrações, cismas,
disparates, ideias, introspecções, tresvarios, obsessões...do irritante Guru do
Meyer.
A edição que tenho é a sétima e foi adquirida em 1996, em um formato
de 524 páginas, as quais sempre estou a folheá-la, randomicamente.
Cada capítulo corresponde a uma letra do alfabeto, e nele constam
frases escritas/publicadas com temas que começam com a letra específica, com
definições de caráter crítico, reflexivo, cômico etc. Abaixo, um minúsculo
exemplo de algumas dessas definições do autor:
ABREVIAÇÃO: palavra comprida pra coisa curta.
AGÁ: Ontem tinha agá, hoje não tem. Hoje, ontem tinha agá e hoje, como
ontem, também tem.
ALTERNATIVA: Você não pode aumentar sua estatura. Mas pode mandar
rebaixar o teto.
AUTOBIOGRAFIA: Estou escrevendo minha autobiografia. Mas ainda não
decidi se vou morrer no fim.
BOCA: A boca é o aparelho excretor do cérebro;
BRASIL: Brasil, país do faturo.
CAMISINHA: Usar camisinha é nunca ter que pedir perdão.
CARÁTER: O caráter é apenas o subproduto das bandalheiras em que você não
conseguiu entrar.
CHATO: Chato é um sujeito que conta tudo tim-tim por tim-tim e depois
entra em detalhes.
COBRA: A cobra é um rabo auto-suficiente.
DIA/NOITE: Se quando o sol desponta consegue afastar a escuridão, por que
não resiste à escuridão quando a noite cai sobre ele?
DIETA: A dieta pra emagrecer é um paradoxo econômico – você gasta mais
com a dieta do que gastava com a comida.
DINHEIRO: O dinheiro não traz felicidade. Mas leva.
EXIGÊNCIA: Não se muda ninguém. O máximo que se pode exigir das
pessoas porcas é um mínimo de porcaria.
FIDELIDADE: Certas mulheres não nos abandonam nem nas piores
situações. Que, aliás, foram elas que criaram.
HERANÇA: Herança é o que os descendentes recebem quando o cara não
teve a sabedoria de gastar tudo antes de morrer.
IGNORÂNCIA: Quem não sabe, acredita.
MANDAMENTOS: Você bem pode fazer aos outros alguma coisa que não
queres que te façam. Os gostos não são iguais.
MODELO: Olhai os animais: eles não se desesperam. Animaivos.
FIM: Você está realmente velho no dia que a gatona da vizinha abre a
porta do seu apartamento, vê você sozinho diante da televisão e diz: “Ué, não
tem ninguém em casa?”
Boa Leitura.
(*) Fernando Chagas da Costa é
funcionário do Banco do Brasil há mais de 30 anos e professor universitário da
área de exatas na Faculdade de Alagoas/FAL, vinculada a Estácio de Sá.
Vavá Caréu notabilizava-se por ser uma pessoa alegre, responsável, interessada, um grande
ouvinte de conselhos, amiga e principalmente, equilibrada. Nunca o vi nervoso
ou fora da sua normalidade. Sempre enfrentava as dificuldades com muita
disposição e aquele sorriso que todos conheciam.
