DICA DE LEITURA: “FERNANDO PESSOA – UMA QUASE AUTOBIOGRAFIA”
Por Fernando Chagas da Costa (*)
Fernando Pessoa foi, sem dúvida, o maior poeta português.
Literalmente, Fernando foi muitas “pessoas” numa só. Usou diversos pseudônimos,
a exemplo de Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Alberto Caeiro, Bernardo Soares.
O advogado pernambucano José Paulo Cavalcanti Filho (que também é
consultor da Unesco e do Banco Mundial, ex-Ministro da Justiça e membro da
Academia Pernambucana de Letras) lançou, pela editora Record, em 2011 a excelente obra “Fernando
Pessoa – uma quase autobiografia”, com, nada menos que, 734 páginas (incluindo
o sumário). É uma obra minuciosamente elaborada, riquíssima em informações de
Pessoa.
Para quem conhece e gosta das produções de Fernando “de muitas
pessoas”, o livro de José Paulo é uma verdadeira enciclopédia.
O grande Millor Fernandes, já citado aqui em nossa coluna semanal,
escreveu sobre o livro: “Li este livro impressionante em suspense, mesmo
sabendo, desde o início, que o herói morre no fim. Eu, como quase todo mundo,
não conhecia Pessoa. E José Paulo revela nele a figura perfeita do anti-heroi.
Descreve-o com amplitude e detalhes que ele próprio não saberia repetir. Que
admirável o esforço perseguindo essa vida! E que admirável revelação de
biógrafo!”
Sempre que ouço alguém perguntar “Será que vale à pena?”, de imediato
lembro-me de parte do poema “Mar Português”, de Fernando Pessoa, que é o meu
preferido, no qual ele mostra a “ força monstruosa” que o mar provocou sobre os
navegantes portugueses, nas suas expedições para conhecer/conquistar novas
terras e, para isso, tantos deles foram dizimados, mas ainda assim os ideais
mantiveram-se firmes. No poema, o termo “Bojador” refere-se ao Cabo Bojador,
passagem no mar na qual várias embarcações desapareceram.
Fecho a coluna com o poema “Mar Português”:
“Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu à pena? Tudo vale à pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.”
Boa Leitura.
(*) Fernando Chagas da Costa é
funcionário do Banco do Brasil há mais de 30 anos e professor universitário da
área de exatas na Faculdade de Alagoas/FAL, vinculada a Estácio de Sá.