As 14 estações da Via-Sacra da JMJ Rio2013, fizeram uma alusão às
questões do mundo de hoje, revelando o sofrimento de Jesus em meio “às dores”
presentes na sociedade atual. Em seu discurso, o Papa Francisco, falou sobre o
sentido da Cruz de Cristo e da Cruz peregrina, símbolo da Jornada Mundial da
Juventude, que passou por todos os estados do país.
E pediu que rezem
pelas vítimas do incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), que
mantou 242 jovens, em janeiro desde ano.
Leia o discurso
completo:
Queridos jovens,
Viemos hoje
acompanhar Jesus no seu caminho de dor e de amor, o caminho da Cruz, que é um
dos momentos fortes da Jornada Mundial da Juventude. No final do Ano Santo da
Redenção, o Bem-aventurado João Paulo II quis confiá-la a vocês, jovens, dizendo-lhes:
«Levai-a pelo mundo, como sinal do amor de Jesus pela humanidade e anunciai a
todos que só em Cristo morto e ressuscitado há salvação e redenção» (Palavras
aos jovens [22 de abril de 1984]: Insegnamenti VII,1 (1984), 1105). A partir de
então a Cruz percorreu todos os continentes e atravessou os mais variados
mundos da existência humana, ficando quase que impregnada com as situações de
vida de tantos jovens que a viram e carregaram. Ninguém pode tocar a Cruz de
Jesus sem deixar algo de si mesmo nela e sem trazer algo da Cruz de Jesus para
sua própria vida. Nesta tarde, acompanhando o Senhor, queria que ressoassem
três perguntas nos seus corações: O que vocês terão deixado na Cruz, queridos
jovens brasileiros, nestes dois anos em que ela atravessou seu imenso País? E o
que terá deixado a Cruz de Jesus em cada um de vocês? E, finalmente, o que esta
Cruz ensina para a nossa vida?
Uma antiga tradição
da Igreja de Roma conta que o Apóstolo Pedro, saindo da cidade para fugir da
perseguição do Imperador Nero, viu que Jesus caminhava na direção oposta e,
admirado, lhe perguntou: «Para onde vais, Senhor?». E a resposta de Jesus foi:
«Vou a Roma para ser crucificado outra vez». Naquele momento, Pedro entendeu
que devia seguir o Senhor com coragem até o fim, mas entendeu sobretudo que
nunca estava sozinho no caminho; com ele, sempre estava aquele Jesus que o
amara até o ponto de morrer na Cruz.
Pois bem, Jesus com
a sua cruz atravessa os nossos caminhos para carregar os nossos medos, os
nossos problemas, os nossos sofrimentos, mesmo os mais profundos. Com a Cruz,
Jesus se une ao silêncio das vítimas da violência, que já não podem clamar,
sobretudo os inocentes e indefesos; nela Jesus se une às famílias que passam
por dificuldades, que choram a perda de seus filhos, ou que sofrem vendo-os
presas de paraísos artificiais como a droga; nela Jesus se une a todas as
pessoas que passam fome, num mundo que todos os dias joga fora toneladas de
comida; nela Jesus se une a quem é perseguido pela religião, pelas ideias, ou simplesmente
pela cor da pele; nela Jesus se une a tantos jovens que perderam a confiança
nas instituições políticas, por verem egoísmo e corrupção, ou que perderam a fé
na Igreja, e até mesmo em Deus, pela incoerência de cristãos e de ministros do
Evangelho. Na Cruz de Cristo, está o sofrimento, o pecado do homem, o nosso
também, e Ele acolhe tudo com seus braços abertos, carrega nas suas costas as
nossas cruzes e nos diz: Coragem! Você não está sozinho a levá-la! Eu a levo
com você. Eu venci a morte e vim para lhe dar esperança, dar-lhe vida (cf. Jo
3,16).
E assim podemos
responder à segunda pregunta: o que foi que a Cruz deixou naqueles que a viram,
naqueles que a tocaram? O que deixa em cada um de nós? Deixa um bem que ninguém
mais pode nos dar: a certeza do amor inabalável de Deus por nós. Um amor tão
grande que entra no nosso pecado e o perdoa, entra no nosso sofrimento e nos dá
a força para poder levá-lo, entra também na morte para derrotá-la e nos salvar.
Na Cruz de Cristo,
está todo o amor de Deus, a sua imensa misericórdia. E este é um amor em que
podemos confiar, em que podemos crer. Queridos jovens, confiemos em Jesus,
abandonemo-nos totalmente a Ele (cf. Carta enc. Lumen fidei, 16)! Só em Cristo
morto e ressuscitado encontramos salvação e redenção. Com Ele, o mal, o
sofrimento e a morte não têm a última palavra, porque Ele nos dá a esperança e
a vida: transformou a Cruz, de instrumento de ódio, de derrota, de morte, em
sinal de amor, de vitória e de vida.
O primeiro nome
dado ao Brasil foi justamente o de «Terra de Santa Cruz». A Cruz de Cristo foi
plantada não só na praia, há mais de cinco séculos, mas também na história, no
coração e na vida do povo brasileiro e não só: o Cristo sofredor, sentimo-lo
próximo, como um de nós que compartilha o nosso caminho até o final. Não há
cruz, pequena ou grande, da nossa vida que o Senhor não venha compartilhar
conosco.
Mas a Cruz de
Cristo também nos convida a deixar-nos contagiar por este amor; ensina-nos,
pois, a olhar sempre para o outro com misericórdia e amor, sobretudo quem
sofre, quem tem necessidade de ajuda, quem espera uma palavra, um gesto;
ensina-nos a sair de nós mesmos para ir ao encontro destas pessoas e lhes
estender a mão. Tantos rostos acompanharam Jesus no seu caminho até a Cruz:
Pilatos, o Cireneu, Maria, as mulheres… Também nós diante dos demais podemos
ser como Pilatos que não teve a coragem de ir contra a corrente para salvar a
vida de Jesus, lavando-se as mãos. Queridos amigos, a Cruz de Cristo nos ensina
a ser como o Cireneu, que ajuda Jesus levar aquele madeiro pesado, como Maria e
as outras mulheres, que não tiveram medo de acompanhar Jesus até o final, com
amor, com ternura. E você como é? Como Pilatos, como o Cireneu, como Maria?
Queridos jovens,
levamos as nossas alegrias, os nossos sofrimentos, os nossos fracassos para a
Cruz de Cristo; encontraremos um Coração aberto que nos compreende, perdoa, ama
e pede para levar este mesmo amor para a nossa vida, para amar cada irmão e irmã
com este mesmo amor. Assim seja!
Fonte: ACI Digital
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