O primeiro semestre de 2021 deve ser desafiador não só para a economia do País, mas para o bolso dos brasileiros. O fim do auxílio emergencial para quase 70 milhões de pessoas, em dezembro, coincide com a concentração de despesas comuns aos consumidores no início do ano. Material escolar, IPTU, IPVA... Tudo isso se soma aos gastos mensais, como alimentação, aluguel, água e luz.
Pesquisa Datafolha publicada em janeiro, por exemplo, aponta que 69% dos
brasileiros que receberam o auxílio emergencial ainda não haviam encontrado
outra fonte de renda para substituir o benefício. Cerca de 62%, segundo o
levantamento, sequer economizaram recursos para quando o auxílio acabasse. Com
menos dinheiro e mais contas a pagar, a matemática pode não fechar.
Pensando em ajudar quem está com a corda no pescoço, o Brasil61.com conversou
com Sandro Sacchet de Carvalho, doutor em Economia pela Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e pesquisador do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada, o IPEA.
Em bate-papo exclusivo, Sandro dá dicas para aqueles cujo auxílio emergencial
era a única renda, fala sobre a recuperação dos postos de trabalho, a alta
inflação dos alimentos e conta um pouco mais sobre a reserva de emergência, que
pode salvar o orçamento de muita gente em períodos de crise, como a pandemia da
Covid-19.
Sandro explica que, no auge da pandemia, 6% dos domicílios dependiam
exclusivamente do auxílio emergencial para sobreviver. Para essas famílias, a
urgência para obter uma nova renda exige soluções rápidas, que o mercado de
trabalho formal não oferece no momento.
“Os domicílios que dependiam exclusivamente do auxílio emergencial estão em uma
situação mais perigosa. As soluções práticas e rápidas são, justamente, para
empregos que não precisam de entrevista ou de um processo longo de entrada. Por
exemplo, como entregador e motorista de aplicativo, em que basta você se
inscrever e já pode começar a trabalhar. Se, de fato, essas pessoas se
encontram em domicílios que perderam toda a renda de trabalho e viviam do
auxílio emergencial, um tipo de atividade como essa pode ser uma solução”,
indica Sandro.
Despesas
Beneficiários do auxílio emergencial ou não, os brasileiros
de todo o País têm que lidar com outra dificuldade para cumprir o orçamento
neste início de ano. Afinal, quem tem filho, carro ou casa para cuidar vai se
deparar com a compra de material escolar e pagamento do IPVA e do IPTU, por
exemplo. Sandro explica que nesse tipo de situação vai se sair melhor quem
conseguiu guardar dinheiro do 13º ou em pequenas parcelas ao longo do ano
passado.
Essa, no entanto, está longe de ser a realidade da maioria dos brasileiros.
Levantamento da Fecomércio-RJ, por exemplo, mostra que 60% dos consumidores
entrevistados não fizeram reserva em 2020 para arcar com as dívidas do primeiro
semestre deste ano. Para essas pessoas, o pesquisador dá alguns conselhos.
“Se a pessoa não conseguiu fazer essa reserva, existem algumas opções, como
buscar uma renda extra, tentar parcelar ao máximo esses gastos ao longo do ano
para tentar encaixar isso no orçamento domiciliar ou recorrer a empréstimos. O
que eu recomendo é que ela evite empréstimos com juros muito altos, porque isso
vai formar uma bola de neve. O ideal seria recorrer a empréstimos baratos, com
juros baixos, ou até de amigos e parentes, se for possível”, sugere.
Durante a entrevista, Sandro também falou sobre a inflação de alimentos que, no ano passado, acumulou alta de 14,09% de alta, o maior índice desde 2002, segundo o IBGE. A tendência, ele explica, é de que os preços se mantenham estáveis em 2021, mas a normalidade pode demorar um pouco mais. “O processo de deflação, de retornar aos preços a um nível um pouco mais baixo, vai demorar a aparecer. Só realmente quanto tudo se normalizar ao fim da pandemia, lá no final do ano”, projeta.
O mesmo vale para o mercado de trabalho, afirma o pesquisador. A chave para virar o jogo, ele confirma, é a “imunização em massa” da população.
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