Homilia
para a Ceia do Senhor
(Quinta-feira
Santa)
Por: Padre Marcelo Protázio.
Queridos
amigos,
Com
esta celebração vespertina iniciamos o Tríduo Sacro da Páscoa do Senhor. Fazendo
memória do que Ele fez naquela que chamamos de sua última ceia queremos está
unidos a Jesus, o Mestre Sacerdote que quis, está e continua conosco no
memorial de sua paixão, no sacramento eucarístico que Ele próprio institui.
Participando desta missa queremos receber todas as graças que ela pode nos
conferir, enquanto meditamos sobre seu significado.
O
rito de páscoa que ouvimos na primeira leitura foi tirado de uma celebração em
que os pastores de ovelha nômades das terras do Patriarca Abraão costumavam celebrar
para comemorar o fim do inverno e começo da primavera. Eram para eles tempos de
bons pastos para seus rebanhos, que agora estavam livres dos perigos do
inverno. Por isso se chamava rito da Páscoa, ou seja, passagem. Os hebreus vão
celebrar este mesmo rito dando um novo significado de não mais passagem de
estação de tempo, mas memória de sua saída do Egito, a casa da escravidão. Para
guardarem eternamente em sua memória o feito poderoso de Deus que os tirou do
Egito com mão forte eles celebram a páscoa com o cordeiro, o cabrito sem
defeito, que morto naquela noite simbolizava sua libertação da escravidão do
Egito para a terra da liberdade, chamada de terra onde corre leite e mel, terra
da fartura e da doçura da ação de Deus. Este acontecimento se tornará tão
importante que a ordem no final da leitura é clara: “Este dia será para vós uma festa memorável em honra do Senhor, que
haveis de celebrar por todas as gerações, como instituição perpétua”. (Ex.
12,14).
Esta
mesma ordem, caro amigos, o Senhor Jesus deu aos discípulos ao instituir a
eucaristia: “fazei isto em minha memória”.
Eis que fazemos isto hoje em nossa matriz, celebramos a eucaristia em memória
de Cristo. Esta eucaristia que serve de alimento para nossa vida foi instituída
no clima da paixão que já se aproxima. Nos relatos da ceia que os evangelhos
nos transmitiram encontramos os momentos dramáticos quando na ceia o Senhor
anuncia sobre a traição de um dos seus. A angústia que dominará o Mestre na e sua oração do horto já se faz presente à
mesa do Senhor. Ele sente a fraqueza dos seus, mas quer deixar seu testamento
de forma definitiva. O pão e vinho que Ele transforma em seu corpo e sangue
define este testamento. É eucaristia, ação de graças ao Pai por tudo que
aconteceu e pelo que está para acontecer. E para demostrar que o sacramento do
seu corpo e sangue exige também uma conduta de vida, o texto que ouvimos agora
a pouco deixa o exemplo. O lavar os pés dos discípulos, o Mestre mostra para
onde se dirige esta conduta de quem recebe seu corpo e sangue: ao serviço
humilde do próximo. Não é o lava pés que dá beleza a esta celebração, mais sim
a eucaristia, corpo e sangue de Cristo, alimento espiritual que nos leva a
consciência do serviço ao outro. Quem comunga o corpo e sangue do Senhor não
pode fechar-se em si mesmo, mais deve abrir seu coração e sua vida ao serviço
dos irmãos e a ação de Deus de forma concreta. Quem comunga o sacramento do
corpo e sangue do Senhor e não sai de si para os outros, torna-se um crente sem
obras, com uma fé morta, estéril. É por isso que na Igreja antiga se tinha o
costume de receber o sacramento da confissão para se receber o sacramento
eucarístico, ou seja, purifica-se o coração pelo perdão a fim de alimentá-lo
com o pão de Cristo e livre de qualquer pecado colocar-se a serviço do
evangelho. Eis, queridos amigos, a herança que cada um de nós, batizado é
detentor. O Pão que desceu do céu veio para nós, homens e mulheres pecadores.
Veio para nos alimentar e nos tirar da condição de pecadores para nos tornar santos.
Por isso que não podemos comungar e permanecermos do mesmo jeito. Precisamos
mudar de vida, de comportamentos, de sentido e nos colocarmos no caminho do
Senhor. É por isso que algumas pessoas que vivem em condição pública de pecado
e que no momento não consegue sair dela ficam impedidas de se aproximarem da
eucaristia. Pois, se alguém assim vive e se aproxima da eucaristia comete
pecado grave, porque não está em condição de fazer aquilo que a eucaristia
pede; mudar de vida. Deste grupo fazem parte os que vivem em união matrimonial
irregular ou vivem em relação de adultério, os que cometeram ou ajudaram na
prática do aborto e não se arrependeram e nem confessaram, bem como aqueles que
se negam a crer naquilo que a igreja ensina em sua doutrina. A estas pessoas, a
Igreja orienta que buscando viver uma vida agradável a Deus, coloquem-se em
estado de penitência e oração e através de uma direção espiritual alimentem-se
da Sagrada Escritura enquanto chega o momento de voltarem a plena comunhão com
Cristo e assim terem o direito de receberem os sacramentos da Igreja. Por estas
pessoas a Igreja não cessa de interceder junto a Cristo.
Queridos
amigos, também hoje celebramos a instituição do sacramento da ordem. Ao
celebrar a eucaristia e ordenar que os discípulos o fizessem em sua memória, o
Cristo Senhor os instituiu sacerdotes da nova e eterna aliança. Diz São Paulo
na segunda leitura de hoje: “irmãos, o
que eu recebi do Senhor, foi isso que vos transmiti” (1 Cor. 11,23). O
sacerdote recebe do Senhor através da Igreja o sublime poder de celebrar a
eucaristia e atualizá-la em nosso tempo. Por isso, no dia de hoje, todos os
padres do mundo inteiro renovaram suas promessas sacerdotais diante de seus
bispos. Nós o fizemos em nossa Igreja Catedral de Garanhuns. Rezemos pelos
padres do mundo inteiro para que sejam perseverantes na missão que o Senhor
lhes confiou. Rezem por mim, seu vigário, que a pouco completei 15 anos de vida
sacerdotal para que o Senhor me conceda sempre a alegria e a felicidade neste
ministério.
Senhor
Jesus Cristo, neste admirável sacramento, dai-nos o pão do céu, o alimento dos
que creem. Ajuda-nos a sermos fieis a tua Palavra na tua Igreja. Concede-nos,
Senhor a tua graça nesta hora de nossas vidas. Acolhe as preces do teu povo e
tem piedade de nós. Livra-nos dos flagelos da seca que já nos assusta. Afasta
de nós a dor da fome. Saciai-nos com tua Palavra, tua graça e com o alimento
para o nosso corpo. Amém!
Padre
Marcelo Protázio
Vigário
de Bom Conselho.
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