Descoberto há mais de sessenta anos, o vírus zika foi
identificado pela primeira vez no Brasil no fim de abril de 2015, quando seu
material genético foi identificado em oito pacientes do Rio Grande do Norte. O
microrganismo, que costuma causar infecções assintomáticas em até 80% dos casos
ou originar sintomas brandos, como febre, coceira e mal-estar, tem causado
preocupação por sua associação a diversas doenças.
No fim do ano passado, o Ministério da Saúde confirmou a
relação entre os casos de zika e o nascimento de bebês com microcefalia,
além de investigar a ligação com a síndrome de Guillain-Barré, uma afecção
autoimune que afeta os tecidos do sistema nervoso e é capaz de levar à
paralisia. Na última sexta-feira, cientistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)
detectaram o vírus na saliva
e urina de dois pacientes infectados - o que não significa que a
transmissão possa ocorrer por meio desses fluidos.
Confira as principais dúvidas em relação ao vírus e o que a
ciência sabe até o momento sobre ele:
O que é zika vírus?
O zika é um vírus que pertence à família Flavivírus, a mesma
da dengue e da febre amarela. Foi identificado em 1947, em macacos da floresta
de Zika, em Uganda (daí seu nome), e provocava apenas infecções esporádicas em
humanos, com sintomas "brandos", como manchas avermelhadas, febre
baixa e leve mal-estar.
Quando ele chegou ao Brasil?
O primeiro surto de zika aconteceu em 2007, na pequena ilha
de Yap, na Micronésia e, em 2013, novos registros da doença surgiram na
Polinésia Francesa, que teve 8.264 casos suspeitos. Não há um “paciente zero”
de zika no Brasil, mas acredita-se que foi provavelmente trazido por religiosos
da Polinésia que acompanharam a visita do Papa Francisco, em 2013, ou durante a
Copa do Mundo, em 2014. No fim de abril de 2015, uma pesquisa desenvolvida pelo
Laboratório de Virologia Molecular do Instituto Carlos Chagas (ICC/Fiocruz
Paraná) confirmou a presença do vírus em amostras de oito pacientes do Rio
Grande do Norte, identificando o material genético do microrganismo.
Como é a transmissão?
O zika vírus é, comprovadamente, transmitido pela picada da
fêmea do mosquito 'Aedes aegypti', assim como os vírus da dengue e chikungunya.
Quais são os sintomas?
O vírus entra na corrente sanguínea e pode infectar células
da pele, do sistema linfático e a conjuntiva (membrana que reveste os olhos).
Por isso, os sintomas do vírus que permanece por volta de dois a três dias no
organismo são a formação de manchas na pele, gânglios ou conjuntivite, além da
febre baixa e o mal-estar característico das infecções. Contudo, em até 80% dos
casos, o zika pode ser assintomático - ou seja, não causar sintoma algum.
Há transmissão sexual?
O risco de transmissão sexual do vírus zika ainda não foi
comprovado cientificamente. O estado americano do Texas relatou um caso de suspeita
de transmissão sexual de zika no início de fevereiro. O Centro de
Controle e Prevenção de Doenças americano (CDC, na sigla em inglês), afirmou
que “o laboratório confirmou o primeiro caso de zika vírus em um não-viajante.
Nós não acreditamos que o contágio tenha ocorrido por meio de picadas de
mosquito, mas sim por contato sexual”. Em 5 de fevereiro, o CDC reafirmou a
possibilidade da transmissão sexual do vírus e aconselhou casais esperando
bebês que usem camisinha ou não façam sexo durante toda a gravidez,
principalmente aqueles em que homens morem ou tenham viajado para áreas em que
haja a transmissão do zika.
Pode haver transmissão pelo
beijo?
Na última sexta-feira, cientistas da Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz) identificaram
o vírus na saliva e urina de dois pacientes infectados. Contudo, a
transmissão por meio desses fluidos não foi comprovada. Os cientistas sugerem
maiores cuidados para gestantes, principalmente até o quarto mês de gravidez.
"A precaução maior deve ser tomada naqueles casos onde há uma maior
gravidade ou potencial de danos, que são as gestantes. Para elas, recomendamos
que evitem grandes aglomerações e tentem não compartilhar copos e materiais levados
à boca. Pessoas que convivam com gestantes e tenham sintomas de zika devem ter
uma responsabilidade adicional”, disse Paulo Gadelha, presidente da Fiocruz.
Qual a relação do vírus com a
microcefalia?
A relação entre o zika e o nascimento de bebês com
microcefalia foi confirmada
pelo Ministério da Saúde no fim do ano passado. A investigação do
governo ocorreu depois que cientistas brasileiros registraram um número elevado
de casos de microcefalia em regiões com casos de zika. Os pesquisadores se
basearam em alguns poucos estudos que relatam que o microrganismo pode também
ter afinidade com as células do sistema nervoso. Uma dessas pesquisas,
publicada em 1952, descreve a injeção do vírus em camundongos, chimpanzés e
coelhos. A análise revela que em ratos jovens, com menos de duas semanas de
vida, o zika é capaz de destruir as células nervosas, efeito que não foi visto
nos animais mais velhos. De acordo com o governo, principal evidência foi a
detecção do vírus zika em amostras de sangue de um bebê que nasceu com
microcefalia e morreu, no Ceará. Contudo, ainda não se sabe se o vírus é o
responsável pela microcefalia ou se há outros fatores envolvidos.
Qual a relação entre o vírus
zika e a síndrome de Guillain-Barré?
Alguns estados brasileiros com ocorrência do zika vírus têm
observado aumento dos casos da síndrome de Guillain-Barré, uma afecção
autoimune que afeta os tecidos do sistema nervoso e é capaz de levar à
paralisia. Essa síndrome é uma doença rara, que pode provocar fraqueza muscular
e paralisia de braços, pernas, face e musculatura respiratória. Em 85% dos
casos, há recuperação total da força muscular e sensibilidade. Ela pode afetar
pessoas de qualquer idade, mas é mais comum entre adultos mais velhos e pode
ocorrer depois de infecções. Alguns artigos científicos mencionam o aumento de
alguns casos da síndrome de Guillain-Barré em regiões afetadas pelo vírus zika.
O Ministério da Saúde está investigando os casos, mas não confirma a
correlação, apesar de os especialistas acreditarem que a conexão é bastante
provável. A Colômbia, segundo país mais afetado do mundo pelo zika depois do
Brasil, prevê mais de 1.500 casos da síndrome neurológica associada ao vírus
zika.
Como se detecta o zika?
Até o momento, a única maneira de descobrir se alguém teve a
doença é fazer um teste laboratorial chamado PCR, que detecta diretamente a
presença do vírus. Ele deve ser feito rapidamente, enquanto o vírus ainda está
no corpo. Após esse período de dois ou três dias, como o anticorpo específico
para o zika ainda é desconhecido, não é possível detectar a presença do vírus.
O zika pode matar?
O Ministério da Saúde confirma três mortes relacionadas ao
vírus. Uma delas é do bebê do Ceará que nasceu com microcefalia e forneceu as
amostras de sangue que foram a base para a confirmação da relação entre o zika
e a microcefalia. Outro caso é de um homem do Maranhão que tinha lúpus. A
terceira morte é de uma garota 16 anos, do Pará.
Os riscos de pegar zika diminuem
depois da época das chuvas?
Historicamente, o pico de transmissão dos vírus transmitidos
pelo 'Aedes agypti' ocorre durante os meses quentes e chuvosos, até por volta
do mês de abril ou maio. “As doenças transmitidas pelo mosquito diminuem muito
em julho, agosto, setembro, meses com temperaturas mais baixas. Contudo, o
Brasil tem invernos quentes e há regiões, como o litoral, onde a transmissão
pode ocorrer o ano inteiro”, diz o médico Ricardo Hayden, membro da Sociedade
Brasileira de Infectologia.
Como se prevenir?
Não há vacina ou tratamento para o vírus zika. Até o
momento, a única forma de prevenir a infecção é evitar o contato com o 'Aedes
agypti' e combatê-lo. Use repelentes e reaplique-os a cada três ou quatro horas
ou após mergulhos e períodos de suor excessivo; fuja dos horários de circulação
do mosquito, entre as 9h até por volta das 14h; elimine possíveis criadouros
(locais com água parada, como vasos, garrafas, pneus ou reservatórios que
possam acumular líquido); instale telas de proteção nas janelas e portas e use
mosquiteiros, principalmente no quarto das crianças. Os especialistas também
recomendam que mulheres grávidas e indivíduos mais vulneráveis aos vírus, como
crianças e idosos, fujam de grandes aglomerações. “Ainda não há a confirmação
de que o vírus tem a capacidade de ser transmitido pela saliva ou urina mas,
enquanto isso, é melhor que gestantes tenham cuidado com grandes grupos de
pessoas, principalmente onde pode haver o risco de contatos mais próximos”,
explica Hayden.
Fonte: Veja