Marina saca da arma que era de uso exclusivo do PT e expõe a trajetória sofrida para estancar a queda nas pesquisas e brigar pela última cota de eleitores disponíveis, a dos chamados volúveis
O
contra-ataque veio na forma que o PT mais temia. Depois de sofrer
a Blitzkrieg dilmista por vinte dias ininterruptos, Marina Silva
sacou do coldre uma arma cujo poder de fogo seus adversários conhecem bem: o
apelo emocional. Em um vídeo gravado durante um comício em Fortaleza e levado ao
ar no seu programa eleitoral de terça-feira, "Dilma, você
fique ciente: não vou lhe combater com suas armas; vou lhe combater com a nossa
verdade", grita Marina, sobre um pequeno palanque montado para um comício
em Fortaleza na última sexta-feira (12). "Nós vamos manter o Bolsa
Família...Eu sei o que e passar fome", completou.
Para
integrantes da campanha, a fala de Marina se diferencia da de outros candidatos
por não ter sido criada por redatores publicitários. O argumento é que um texto
elaborado previamente não teria autenticidade.
No
trecho mais dramático, Marina se recorda do dia em que sua família tinha apenas
um ovo e "um pouco de farinha e sal" para alimentar oito filhos.
"Tudo
o que minha mãe tinha para oito filhos era um ovo e um pouco de farinha e sal
com umas palhinhas de cebola picadas. Eu me lembro de ter olhado para o meu pai
e minha mãe e perguntado 'vocês não vão comer'? E minha mãe respondeu: nós não
estamos com fome."a candidata dizia que passou fome e viu seus pais
deixarem de comer para que os filhos pudessem dividir um ovo — e que alguém que
passou por uma experiência assim jamais iria acabar com o Bolsa Família. A voz
embargada da ex-senadora, as pausas de sua fala, a eloquência da frase final
(“Isso não é um discurso, isso é uma vida”) e os olhos marejados das pessoas no
palanque produziram um vídeo de alta voltagem dramática — foram os dois minutos
de maior impacto nas quase doze horas de programa eleitoral presidencial
veiculadas na TV até aquela data, como mostrou o número de visualizações do
filme na internet (67 000 até sexta-feira, recorde na campanha).
O
uso da emoção em campanhas eleitorais está longe de ser algo novo, mas, no caso
de Marina, ele embute um significado extra. Ao rebater os ataques do adversário
com sua história de vida — menina negra e pobre, nascida em um seringal do Acre
e alfabetizada aos 16 anos de idade —, ela tira do PT o monopólio da emoção e
inicia um perigoso avanço no território inimigo, ao mesmo tempo em que
enfraquece o discurso do medo usado pelo PT. A disseminação do boato de que
Marina acabaria com o Bolsa Família — motivo do seu discurso em Fortaleza — foi
parte do bombardeio petista cujos resultados apareceram na última pesquisa do
Datafolha, divulgada na sexta-feira.
Pelo
levantamento, a presidente e candidata à reeleição pelo PT, Dilma Rousseff,
abriu 7 pontos de vantagem sobre a ex-senadora no primeiro turno e diminuiu de
10 para 2 pontos a diferença no segundo. Aécio Neves, do PSDB, que chegou a ter
20 pontos a menos que Marina, agora está separado dela por 13. Na campanha de
Dilma, o marqueteiro João Santana comemorou: “A Marina está derretendo”. As
pesquisas internas do governo já mostravam que a estratégia de atacá-la a todo
custo havia dado resultado.
Para
o diretor-geral do instituto, Mauro Paulino, a queda de Marina era esperada.
“Pelo volume de ataques que ela sofreu, seu patamar não mudou muito.” Ele disse
acreditar que o vídeo de Fortaleza deverá ter impacto junto ao eleitor, mas
seus efeitos só serão sentidos na próxima pesquisa (as entrevistas do Datafolha
foram feitas entre a última quarta e quinta-feira).
Assista ao vídeo abaixo:
Assista ao vídeo abaixo: