Entrevista concedida ao jornal
"O Globo"
A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta
sexta-feira que teve uma política defensiva na economia em relação à crise
mundial. Ao ser questionada se mudaria a condução econômica em um
eventual segundo mandato, demonstrou irritação: afirmou que esse
"tipo de colocação é estagnada". "A gente muda com a realidade.
Assumo que tive uma política defensiva em relação a crise".
Dilma
participou de uma sabatina promovida pelo jornal O Globo.
O protecionismo adotado pelo governo tem sido defendido pela presidente,
no âmbito de sua estratégia de afirmar que "salvou" empregos no
país. As medidas protecionistas, contudo, são alvo frequentes das críticas de
outros países e de analistas de mercado. Dilma disse também que o Brasil vive
hoje uma "crise de representatividade" - e que voltará a tentar uma
consulta popular sobre reforma política, caso reeleita.
A petista afirmou que pretende consultar a população acerca
de cinco pontos, embora tenha detalhado apenas dois: financiamento público de
campanha e tempo de mandato. Não por acaso, o financiamento público de
campanha é de grande interesse do PT. Com o fim do financiamento privado, a
maior parte do dinheiro teria de sair dos cofres públicos. E a divisão
seria feita de acordo com o tamanho das bancadas, o que favoreceria os maiores
partidos. A presidente chegou, inclusive, a colocar o tema na lista de
perguntas de seu fracassado plebiscito em resposta às manifestações de
junho do ano passado. Dilma disse que, apesar da "crise de
representatividade", há partidos no Brasil com compromissos históricos,
como PT e PMDB. Aproveitou, inclusive, para desvincular sua legenda dos
escândalos envolvendo petistas. "É claro que houve os que erraram, mas não
se pode crucificar o partido".
Economia - Dilma disse que é a favor da autonomia
"operacional" do Banco Central (BC), mas voltou a criticar a proposta
da adversária Marina Silva, que propõe uma autonomia maior do órgão. "Eu
defendo a autonomia operacional. Independência do Banco Central, não", afirmou. A
resposta veio quando a petista foi confrontada com uma afirmação feita por ela
mesmo na campanha de 2010: na época, ela afirmou defender a autonomia do BC.
O debate em torno do papel do Banco Central ganhou
importância quando a campanha petista passou a atacar Marina Silva (PSB) com o
argumento de que a autonomia pregada pela adversária daria um poder excessivo
aos banqueiros, já que o governo não teria controle direto sobre as decisões do
BC.
Petrobras - Na
sabatina, que durou duas horas, a presidente também repetiu o "não
sabia" quando tratou do esquema de corrupção operado por Paulo Roberto
Costa na Petrobras. Ela ainda rebateu as críticas da candidata Marina Silva
lembrando o passado petista da adversária: "O que não é correto, por
exemplo, é ela dizer que o PT botou uma pessoa por doze anos para roubar a
Petrobras. Isso é inadmissível. Ela esquece que esteve lá. Ou foi membro do
governo, como eu, ou na bancada do Senado. Nos quatro anos que ela não
participou do governo, foi exatamente quando esse sujeito saiu do
governo", disse a presidente.
Dilma também disse não ver exagero nos ataques de sua campanha à adversária
Marina Silva. “É muito perigosa essa vitimização da candidata Marina. Eu
disse que ela estava sendo financiada por banqueiros, eu disse fatos",
declarou a petista, que é quem mais recebeu doações de bancos na campanha
eleitoral.
A presidente ainda defendeu o sigilo no contrato de empréstimo para a
construção de um porto em Cuba. Ela afirmou que o segredo é necessário por
envolver empresas privadas. E não vê nada de errado no procedimento: "Acho
que tem um preconceito por ser Cuba".
Casamento gay - Dilma também
afirmou que é um "absurdo" discutir o casamento gay porque
o Supremo Tribunal Federal já decidiu sobre o assunto. "Isso é
uma discussão que foi resolvida no maior nível possível, pelo Supremo. Discutir
se tem direito ou não é um absurdo", disse ela. Mas a corte apenas
instituiu a união civil, que posteriormente foi convertida em casamento pelo
Conselho Nacional de Justiça. Não há legislação a respeito do tema. Em
2010, Dilma afirmou que apoiava a união civil, mas não o casamento gay.
"Casamento diz respeito as religiões e não vamos discutir isso",
afirmou.
Indagada a respeito de sua religião, que nunca foi um tema completamente esclarecido,
a presidente respondeu de forma confusa aos jornalistas de O Globo: disse
crer "em todos que creem". E prosseguiu: "Meu Deus é um
Deus bom. Não vejo um Deus que seja só de uma religião".