Aumento das turbulências aéreas, temperaturas cada vez mais
extremas e ondas gigantes nos mares: especialistas internacionais pintaram uma
imagem apocalíptica do clima nas próximas décadas, em uma conferência mundial
encerrada na última quinta-feira (21), em Montreal.
No evento da Organização Meteorológica Mundial (OMM), uma
agência da ONU, mil cientistas discutiram o futuro do clima na primeira
conferência mundial de meteorologia.
Quase 10 anos depois da entrada em vigor do Protocolo de
Quioto, que buscou reduzir as emissões de gases de efeito estufa, a pergunta
não é mais se a Terra sofrerá com o fenômeno do aquecimento, mas como.
"É algo irreversível e a população mundial continua
aumentando. É preciso adaptação", disse Jennifer Vanos, da universidade
Texas Tech.
Na primeira década do século XXI, a temperatura média da
superfície do planeta aumentou 0,47 grau Celsius. Um aumento de apenas 1 grau
gera 7% mais vapor d'água e, como a evaporação é o motor da circulação das
massas de ar na atmosfera, é possível prever a aceleração dos fenômenos
meteorológicos.
Os cenários usados pela comunidade científica estimam um
aumento de 2 graus na temperatura média da Terra em 2050.
"As nuvens se formarão mais facilmente e com maior
rapidez, e os ventos serão mais fortes", o que causará inundações
repentinas, advertiu Simon Wang, da universidade do estado de Utah.
Em termos gerais, segundo o cientista americano, a alta das
temperaturas terá "um efeito amplificador sobre o clima como conhecemos
atualmente".
Os episódios de frio intenso, como o vórtice polar que
castigou grande parte da América do Norte no inverno passado, serão mais
marcados e extremos, assim como os de calor excessivo e os períodos de seca.
- Voos turbulentos e ondas gigantes -
Para os meteorologistas, o desafio agora será incorporar
esta "força adicional" aos seus cada vez mais complexos modelos de
previsão, disse Wang.
Para tanto, os meteorologistas precisarão usar
supercomputadores que analisem algoritmos muito complexos para prever o tempo.
O cientista Paul Williams estuda o impacto das mudanças
climáticas nos "jetstreams" (correntes de jato), usando um destes
supercomputadores na Universidade Princeton, em Nova Jersey.
São correntes de ar muito rápidas, situadas a uma dezena de
quilômetros de altitude, onde voas os aviões de carreira.
Após semanas de cálculos, concluiu-se que as mudanças
climáticas amplificarão a força das estreitas faixas de correntes de ar que giram
ao redor do planeta.
"Até 2025, passaremos o dobro do tempo (de voo) imersos
nas turbulências", disse.
Atualmente, passageiros de aviões comerciais sofrem
turbulências durante 1% do tempo de voo, em média, lembrou Williams. Mas,
advertiu, se a concentração de dióxido de carbono aumentar exponencialmente nos
próximos anos, "não se sabe como vão reagir os aviões" a estas
turbulentas massas de ar.
Em alto-mar, ondas gigantescas porão em risco navios de
carga e de passageiros.
"As companhias de navegação já estão enfrentando ondas
enormes", algumas com até 40 metros de altura, disse Wang. Até pouco
tempo, uma onda de 20 metros já era considerada excepcional.
"Este é apenas o começo das mudanças climáticas porque
os oceanos causarão um impacto ainda maior, ao liberar mais calor e
vapor", alertou.
Além disso, o degelo na Groenlândia pode resultar em uma
elevação de 6 metros nos oceanos do mundo, embora não seja provável que isto
aconteça no século atual, avaliou Eric Brun, pesquisador do serviço de
meteorologia francês Meteo-France e autor de um estudo recente sobre o tema.
Fonte: AFP