Faleceu no dia de hoje, 23.07 às 17h e 40 min, Ariano Vilar Suassuna, 87 anos, vítima de uma parada cardíaca. Suassuna encontrava-se internado desde a segunda-feira
(21) no Real Hospital Português (RHP), área central do Recife, após sofrer um
AVC hemorrágico e passar por cirurgia.
Ariano
Vilar Suassuna nasceu em Nossa Senhora das Neves, hoje João Pessoa (PB), no dia
16 de junho de 1927, filho de Cássia Vilar e João
Suassuna. No ano seguinte, seu pai deixa o governo da Paraíba e
a família passa a morar no Sertão, na
Fazenda Acauã, em Aparecida, Paraíba.
Com
a Revolução de 1930, seu pai foi assassinado por
motivos políticos no Rio de Janeiro e a família mudou-se para
Taperoá, onde morou de 1933 a 1937. Nessa cidade, Ariano fez seus primeiros
estudos e assistiu pela primeira vez a uma peça de mamulengos e a um desafio de
viola, cujo caráter de “improvisação” seria uma das marcas registradas também
da sua produção teatral.
A
partir de 1942 passou a viver no Recife, onde
terminou, em 1945, os estudos secundários no Ginásio Pernambucano, no Colégio
Americano Batista e no Colégio Osvaldo Cruz. No ano seguinte iniciou a
Faculdade de Direito, onde conheceu Hermilo Borba Filho. E, junto com ele,
fundou o Teatro do Estudante de Pernambuco. Em 1947, escreveu sua primeira
peça, Uma Mulher Vestida de Sol. Em 1948, sua peça Cantam as Harpas de Sião (ou
O Desertor de Princesa) foi montada pelo Teatro do Estudante de Pernambuco. Os
Homens de Barro foi montada no ano seguinte.
Em
1950, formou-se na Faculdade de Direito e recebeu o Prêmio Martins Pena pelo
Auto de João da Cruz. Para curar-se de doença pulmonar, viu-se obrigado a
mudar-se de novo para Taperoá. Lá escreveu e montou a peça Torturas de um
Coração em 1951. Em 1952, volta a residir em Recife. Deste ano a 1956,
dedicou-se à advocacia, sem abandonar, porém, a atividade teatral. São desta
época O Castigo da Soberba (1953), O Rico Avarento (1954) e o Auto da
Compadecida (1955), peça que o projetou em todo o país e que seria considerada,
em 1962, por Sábato Magaldi “o texto mais popular do moderno teatro brasileiro”.
Em
1956, abandonou a advocacia para tornar-se professor de Estética na
Universidade Federal de Pernambuco. No ano seguinte foi encenada a sua peça O
Casamento Suspeitoso, em São Paulo, pela Cia. Sérgio Cardoso, e O Santo e a
Porca; em 1958, foi encenada a sua peça O Homem da Vaca e o Poder da Fortuna;
em 1959, A Pena e a Lei, premiada dez anos depois no Festival Latino-Americano
de Teatro.
Em
1959, em companhia de Hermilo Borba Filho, fundou o Teatro Popular do Nordeste,
que montou em seguida a Farsa da Boa Preguiça (1960) e A Caseira e a Catarina
(1962). No início dos anos 60, interrompeu sua bem-sucedida carreira de
dramaturgo para dedicar-se às aulas de Estética na UFPE. Ali, em 1976, defende
a tese de livre-docência A Onça Castanha e a Ilha Brasil: Uma Reflexão sobre a
Cultura Brasileira. Aposenta-se como professor em 1994.
Membro
fundador do Conselho Federal de Cultura (1967); nomeado, pelo Reitor Murilo
Guimarães, diretor do Departamento de Extensão Cultural da UFPE (1969). Ligado
diretamente à cultura, iniciou em 1970, em Recife, o “Movimento Armorial”,
interessado no desenvolvimento e no conhecimento das formas de expressão
populares tradicionais. Convocou nomes expressivos da música para procurarem
uma música erudita nordestina que viesse juntar-se ao movimento, lançado em
Recife, em 18 de outubro de 1970, com o concerto “Três Séculos de Música
Nordestina – do Barroco ao Armorial” e com uma exposição de gravura, pintura e
escultura. Secretário de Cultura do Estado de Pernambuco, no Governo Miguel Arraes
(1994-1998).
Entre
1958-79, dedicou-se também à prosa de ficção, publicando o Romance d’A Pedra do
Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971) e História d’O Rei Degolado
nas Caatingas do Sertão / Ao Sol da Onça Caetana (1976), classificados por ele
de “romance armorial-popular brasileiro”.
Ariano
Suassuna construiu em São José do Belmonte, onde ocorre a cavalgada
inspirada no Romance d’A Pedra do Reino, um santuário ao ar livre, constituído
de 16 esculturas de pedra, com 3,50 m de altura cada, dispostas em círculo,
representando o sagrado e o profano. As três primeiras são imagens de Jesus
Cristo, Nossa Senhora e São José, o padroeiro do município.
Membro
da Academia Paraibana de Letras e
Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (2000).
Em
2004, com o apoio da ABL, a Trinca Filmes produziu um documentário intitulado O
Sertão: Mundo de Ariano Suassuna, dirigido por Douglas Machado e que foi
exibido na Sala José de Alencar.
Em
2002, Ariano Suassuna foi tema de enredo no carnaval carioca na escola de samba Império
Serrano; em 2008, foi novamente tema de enredo, desta vez da escola de
samba Mancha Verde no carnaval paulista. Em 2013 sua
mais famosa obra, o Auto da Compadecida será o tema da escola
de samba Pérola Negra em São Paulo.
Em
2006, foi concedido título de doutor honoris
causa pela Universidade Federal do Ceará, mas
que veio a ser entregue apenas em 10 de junho de 2010, às vésperas de completar
83 anos. "Podia até parecer que não queria receber a honraria, mas era
problemas de agenda", afirmou Ariano, referindo-se ao tempo entre a
concessão e o recebimento do título.
Ariano
Suassuna é um torcedor fanático do Sport Club do Recife.