Quando, em 1988, a
Constituição Federal determinou a liberdade de expressão no país, já previa
também a competência do governo para definir a classificação indicativa por
idade para programas de entretenimento. Hoje, o Ministério da Justiça já tem um
sistema de classificação consolidado para espetáculos públicos, incluindo
cinema e televisão. Os desafios agora são as mídias digitais, aplicativos e
jogos virtuais.
Segundo a diretora
do Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação, da
Secretaria Nacional de Justiça, Fernanda Alves dos Anjos, o país vem
participando de uma estratégia global para consolidar um acordo internacional
sobre o assunto, chamado International Age Rating Coalition (Iarc) ou, na
tradução, Coalizão Internacional de Classificação Etária - uma ferramenta de
indicação etária para jogos e aplicativos.
Pelo Iarc, o
criador submete a autoclassificação indicativa do seu software em
cerca de cinco minutos e em 36 países simultaneamente. As indicações serão
fiscalizadas pelo governo e podem ser denunciadas pelo público.
A coalizão, no
entanto, funciona exclusivamente para jogos virtuais. Aqueles que possuem
versão física devem passar pela classificação prévia, que pode levar até 30
dias. Na semana passada, o Ministério da Justiça publicou no Diário
Oficial da União a classificação etária para nove jogos eletrônicos.
O sistema de
classificação é um mecanismo de defesa dos direitos das crianças e dos
adolescentes, mas para a psicóloga Sueli Schiavo, doutora em comunicação, ela
só tem valor quando a família exerce sua orientação. “Para a criança aquilo é a
verdade. A mídia sozinha não é dona da verdade, mas se comporta como tal, e as
crianças e adolescentes têm menos recursos nesse momento da vida para
interpretar os fatos. Deve haver a orientação de adulto, fazendo uma
contra-argumentação, ele não necessariamente pode ter a melhor visão, mas já
terá condições de limitar a influência daquele conteúdo.”
Segundo Fernanda
dos Anjos, o Ministério lança campanhas educativas para orientar pais e
educadores sobre a importância de seguir a classificação indicativa e também
utilizar o bloqueio de canais por assinatura, como a campanha Não Se Engane, por exemplo, de 2012. Todo o conteúdo sobre
classificação indicativa pode ser acessado no Portal Colaborativo
da Classificação Indicativa, que também tem um sistema para consulta das
classificações produzidas.
O Ministério da
Justiça também criou o Projeto
Classifique, que institui um cadastro nacional de classificadores externos.
“A ideia é ampliar o controle social da classificação, seja na análise prévia
ou no monitoramento, e testar inclusive a compreensão de jogos e programas
exibidos”, disse Fernanda.
Serão selecionadas
21 pessoas na primeira etapa, que vão realizar uma capacitação em Brasília.
Posteriormente, outros editais de seleção serão abertos de acordo com o
cronograma de oficinais, ainda a ser organizado.
A internet também
está no horizonte de preocupações do Ministério, mas, segundo Fernanda, ainda é
prematuro pensar em um mecanismo de análise prévia, já que ela depende de um
marco regulatório e tem um volume de conteúdo incalculável.
Segundo Sueli
Schiavo, além da participação da família, a responsabilidade sobre o conteúdo
midiático é de diversos entes sociais. “As emissoras de televisão tem concessão
pública, mas o interesse é privado. Quem está em frente do aparelho não pode
ser tratado como fornecedor ou cliente, mas precisa ser respeitado como um ser
em formação”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário