A
partir da próxima semana, a vacina contra o papiloma vírus humano (HPV) passa a
integrar o calendário de vacinação e será ofertada pela rede pública a meninas
com idade entre 11 e 13 anos. A meta do governo é reduzir a incidência do
câncer de colo de útero no país. Mas, para o diretor da Sociedade Brasileira de
Medicina de Família e Comunidade (SBMFC), Daniel Knupp, a estratégia deve ser
vista com ressalva e muita cautela.
Em
entrevista à Agência Brasil, ele explicou que a inclusão da dose no
calendário nacional preocupa em razão do debate científico sobre a eficácia e a
segurança da vacina. Segundo Knupp, diversas pesquisas demonstram, por exemplo,
que a imunização pode provocar, entre outros efeitos colaterais, o aumento de
doenças autoimunes como o diabetes tipo 1.
Outro
problema, de acordo com o especialista, trata da realização do chamado
rastreamento tradicional de câncer de colo de útero ou papanicolau. Dados da
SBMFC indicam que a cobertura do exame no Brasil está bem abaixo do recomendado
pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Menos de 50% das brasileiras com idade
entre 25 e 69 anos faz o papanicolau pelo menos uma vez a cada três anos,
quando a taxa ideal seria pelo menos 80%.
Saiba
Mais
“A vacinação não substitui o rastreamento
tradicional. Ela não elimina as lesões [que provocam o câncer], apenas diminui
a incidência delas. Se a população for vacinada e deixar de fazer os exames
preventivos, ela pode ter piores consequências do que se não tivesse se
submetido à vacina”.
Por
fim, Daniel abordou também o esquema de vacinação proposto pelo Ministério da
Saúde, que consiste em três doses – a segunda seis meses após a primeira e a
terceira, cinco anos depois. Segundo ele, o esquema tradicional adotado na
maior parte dos países inclui a segunda dose dois meses após a primeira e a
terceira, seis meses depois.
O
secretário de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa, explicou que o esquema de
vacinação adotado pela pasta é recente mas já é utilizado em países como Canadá
e Suíça. Segundo ele, ficou comprovado que, com apenas duas doses, a menina já
está protegida. A ideia de aplicar a terceira doses cinco anos depois consiste
em prolongar o efeito protetivo da imunização.
“Vários
estudos científicos demonstram que o uso da vacina reduz a prevalência do HPV
mesmo entre os não vacinados. É o efeito rebanho ou de imunidade coletiva.
Quando você vacina essas meninas, elas deixam de transmitir o vírus e você vai
quebrando a cadeia de transmissão”, disse, ao destacar que, nos Estados Unidos,
foi registrada uma queda da infecção por HPV entre meninos após a imunização de
meninas.
Para
Jarbas, a eficácia da vacina é indiscutível. Segundo ele, a Organização Mundial
da Saúde (OMS) se reuniu em junho do ano passado e revisou dados relativos à
imunização contra o HPV. O relatório emitido pelo órgão garantia a segurança da
imunização.
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