Há
trinta anos, os médicos preconizam que a pressão arterial de um paciente fique
abaixo de 14 por 9. Um artigo publicado nesta quarta-feira por pesquisadores
americanos sugere que essa medida passe a ser de 15
por 9 para pessoas com mais de 60 anos. A mudança pode resultar em uma
considerável redução do número de pacientes que fazem uso de medicamentos para
diminuir a pressão arterial.
Embora
as mudanças tenham sido sugeridas nos Estados Unidos, é provável que elas sejam
adotadas no Brasil. "Nós usamos as diretrizes americanas e europeias como
um norte para as nossas. A tendência é seguirmos a mesma linha", diz o
cardiologista Luiz Bortolotto, diretor da Unidade Clínica de Hipertensão do
Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da USP (Incor). O médico vai
coordenar as novas diretrizes brasileiras sobre pressão arterial, que devem ser
lançadas no ano que vem – as últimas saíram em 2010.
As
orientações ainda devem levar uns meses para chegar aos pacientes brasileiros —
segundo Bortolotto, as diretrizes americanas não serão adotadas imediatamente.
As mudanças tampouco significam que todos os idosos com pressão menor do que 15
por 9 não precisem mais tomar remédios hipertensivos. "Uma diretriz
funciona como um guia, mas todo o tratamento precisa ser individualizado",
explica o cardiologista.
As
recomendações se basearam nos resultados de uma série de estudos feitos nos
últimos anos. Os especialistas não encontraram benefícios em reduzir a pressão
para menos de 15 em pessoas acima de 60 anos. Para pacientes mais jovens,
diabéticos e portadores de doenças renais, ainda não há evidências de que a
medida deva ser adotada – motivo pelo qual as novas recomendações se restringem
aos mais velhos.
"A
pressão sistólica (máxima) do idoso aumenta em decorrência do enrijecimento do
vaso, algo que acontece naturalmente com todos que envelhecem. Muitas vezes,
porém, a pressão diastólica (mínima) passa a ser mais baixa do que o normal.
Assim, tentar reduzir a pressão arterial de forma muito agressiva pode, em
alguns casos, diminuir muito a diastólica e oferecer mais prejuízos do que
benefícios", diz Bortolotto.
Além
disso, explica o cardiologista, os idosos são mais tolerantes a uma pressão um
pouco mais elevada do que os jovens, e podem sofrer efeitos adversos perigosos
com uma pressão muito reduzida – incluindo tontura acentuada e risco de
isquemia. "É aceitável uma pressão arterial pouco mais elevada entre
idosos, mas dentro de limites estabelecidos por diretrizes como essas",
diz Leopoldo Piegas, cardiologista do Hospital do Coração (HCor).
As
novas orientações foram feitas por 17 especialistas nomeados pelo governo
americano. Elas ainda não são oficiais — as diretrizes da Associação Americana
do Coração e do Colégio Americano de Cardiologia devem ser atualizadas no fim
de 2014. Especialistas ouvidos pelo jornal americano The New York Times não
souberam precisar quantas pessoas que hoje tomam medicamentos para reduzir a pressão
poderiam deixar de fazê-lo. Mas, segundo o presidente da Sociedade Americana da
Hipertensão, William White, milhões de pessoas acima de 60 anos têm pressão
sistólica entre 14 e 15.
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